O que aconteceu de verdade na Cracolândia? Por que usuários saíram da região e como eles se espalharam por SP
28/05/2025
(Foto: Reprodução) Há duas semanas, a região da Cracolândia, no centro de São Paulo, amanheceu praticamente vazia. A cena, antes marcada pela intensa presença de usuários de crack, surpreendeu moradores e comerciantes. Edição de 27/05/2025
Há duas semanas, a região da Cracolândia, no centro de São Paulo, amanheceu praticamente vazia. A cena, antes marcada pela intensa presença de usuários de crack, surpreendeu moradores e comerciantes.
A equipe do Profissão Repórter investigou os motivos por trás do esvaziamento e acompanhou o deslocamento dos usuários para outras áreas da cidade. Saiba mais abaixo.
Força-tarefa
Força-tarefa entre governos desarticulou rede criminosa na Cracolândia, diz promotor
Segundo o promotor Juliano Atoji, uma força-tarefa envolvendo autoridades dos governos federal, estadual e municipal foi responsável por desarticular uma série de atividades criminosas que sustentavam o tráfico de drogas na Cracolândia.
“A gente descobriu uma série de atividades criminosas que se autoalimentavam. Entre elas, a exploração dos ferros velhos, que envolvia submeter pessoas a situações degradantes, graves violações de direitos humanos, lavagem de dinheiro, exploração e prostituição", afirmou o promotor.
Atoji também mencionou o tráfico de drogas dentro de hotéis abandonados e ordens que partiam da Favela do Moinho, próxima à Cracolândia, que está passando por um processo de desocupação há cerca de um mês.
Denúncias de agressões por GCMs
'Deu um murro na minha cara': usuários que ainda permanecem na Cracolândia denunciam agressões de GCMs
Já pelas ruas, a equipe conversou com os poucos usuários que ainda permanecem na região. Eles relataram agressões cometidas por agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
"Deu um murro na minha cara e falou pra mim que se me pegarem aqui no Centro, eles vão quebrar as minhas pernas", conta um deles.
A reportagem também mostrou flagrantes feitos por câmeras de segurança de comércios locais que registraram cenas de violência nos dias que antecederam o esvaziamento.
Em imagens de 10 de maio, um guarda municipal aparece empurrando um homem parado na calçada. No dia seguinte, outra abordagem violenta foi registrada.
O secretário de Segurança Pública Urbana de São Paulo, Orlando Morando, repudiou as agressões:
“Nós não vamos aceitar isso. A nossa conduta , a minha orientação enquanto secretário ao comando da guarda: nós estamos lá para proteger, para fiscalizar, para acompanhar e não para agredir", disse o secretário.
"Qualquer desvio de conduta cometido por qualquer GCM será levada à Corregedoria, como já está sendo desses agentes das últimas imagens. E se comprovadas e confirmadas as agressões, pagarão com punições previstas dentro do estatuto da GCM da cidade de São Paulo", concluiu.
Câmera de segurança flagra GCM agredindo pessoa em situação de rua na Cracolândia
Reprodução/TV Globo
Novos fluxos por outras regiões
Com o esvaziamento da Cracolândia, novos pontos de concentração de usuários surgem em outras áreas de SP
Com o esvaziamento da Cracolândia, novos pontos de concentração de usuários surgiram em diferentes bairros.
A reportagem encontrou um grande grupo de usuário de crack sob o viaduto Minhocão, no bairro Santa Cecília, a cerca de 4 km da antiga Cracolândia.
“A gente não quer fumar aqui, mas mandaram a gente sair de lá. Se voltar, disseram que vão rachar nossa cabeça”, relatou um usuário.
No Parque Dom Pedro II, uma nova Cracolândia começa a se formar. Moradores da região relatam medo e insegurança.
“Está perigoso andar por aqui. A saúde pública precisa intervir”, disse a técnica administrativa Andreia Lúcia.
“Eu desço do ônibus e tenho que sair correndo. Tenho muito medo”, contou a estudante Laura Ramos.
A reportagem também flagrou consumo de crack nas proximidades da Avenida Paulista, uma das mais movimentadas da cidade.
Com o esvaziamento da Cracolândia, novos pontos de concentração de usuários surgem em outras áreas de SP
Reprodução/TV Globo
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